Quando era
pequena, importava-me tanto com o meu nariz como com as minhas orelhas, olhos, boca ou dedos dos pés… queria era brincar, sonhar, correr… embora sempre tenha tido um
sentido estético muito apurado, e já ficasse magoada por elogiarem tanto uma
das minhas irmãs mais novas (muitas vezes á minha frente) e a mim não dizerem
nada… Lembro-me de um dia, a minha mãe e umas amigas estarem a ver fotos
reveladas de um baptizado. Detinham-se demoradamente nas da minha irmã
discorrendo acerca da sua beleza e de “a quem é que ela tinha saído”, para
passarem pelas minhas fotos indiferentemente como se fosse paisagem.
A primeira vez
que começaram a fazer comentários ao meu nariz foi no sétimo ano. O meu nariz,
para além de grande e com uma leve bossa, ficava vermelho com as variações de
temperatura. Sofri de bulling. Lembro-me de uma série de miúdos atrás de mim a
dizer “Penca! Penca!” Ainda hoje esta memória me magoa tanto como no dia.
Eu era
inteligente, boa amiga, tinha sentido de humor e com o tempo foram me deixando
em paz. Claro que de vez em quando, lá ouvia um comentário desagradável.
Lembro-me de um dia no Secundário estar a passear com uma amiga toda giraça,
passar por nós um grupo de homens e de ser outra vez insultada por causa do
nariz. Fiquei mortificada, por ter sido à frente dela. A rapariga era toda
sensível e boazinha, não tocou no assunto, mas durante uns dias até me afastei
dela, me arrastando com um farrapo triste.
Já adulta
descobri as maravilhas das bases. Nariz vermelho de rena polar pelo menos já
não tinha, embora muitas vezes estivesse hiperconsciente do mesmo, como um
marco geodésico no meio da cara. Alguma criança, na sua “maravilhosa” inocência,
às vezes dizia algo (apetecia-me espancá-las… mas não o fiz, tá!!! (risos).
Entretanto, para além do nariz e apesar do nariz, cresci, vivi, amei, fui muito
amada e nem tudo girava em torno do mesmo. Conseguia ver a minha beleza para
além dele. Quando consigo falar do mesmo (acreditem que custa-me muito) e falo
do meu desejo de rinoplastia às pessoas mais próximas, dizem-me que não o devia
fazer, “que não me estraga”, que é proporcional à minha cara, que me acham
muito bonita…
Mas de tempos a
tempos, sinto que enfrentaria a vida, o mundo, as pessoas mais de frente, após
uma rinoplastia… Não queria estar no meu leito de morte a pensar que o deveria
ter feito! E é isto.